Morreu nesta quinta, 30, aos 73 anos, Adenilde Petrina Bispo, uma das principais vozes do movimento negro e da periferia de Juiz de Fora. Diagnosticada com câncer de mama, ela vinha se tratando nos últimos meses.
Conhecida carinhosamente como “Dona Dê”, Adenilde dedicou a vida à luta por justiça social, educação e igualdade racial, tornando-se referência no bairro Santa Cândida, onde morava há décadas.
O velório será realizado a partir das 14h30 no Parque da Saudade.
Da infância simples ao ativismo político
Nascida em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, Adenilde se mudou para Juiz de Fora aos 12 anos com a família. De origem humilde — filha de um pedreiro e de uma dona de casa —, conquistou uma bolsa de estudos no Colégio Santa Catarina, onde ajudava na limpeza para custear os estudos. Foi ali que teve o primeiro contato com ideias de emancipação social e igualdade, durante o período da ditadura militar, quando padres franceses promoviam debates sobre democracia e direitos civis.
Determinada a seguir estudando, ingressou no curso de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) entre 1970 e 1974, tornando-se a primeira da família a entrar na universidade. Na época, era uma das poucas alunas negras da instituição. “Eu lia os livros que diziam ser ‘pesados demais’ para as mulheres e conseguia me sair muito bem”, chegou a lembrar, em depoimento concedido à própria UFJF.
Adenilde Petrina foi referência no movimento negro e na educação
Durante a graduação, Adenilde conheceu o Grupo de Estudos Afro-Brasileiros Aticorene (Geaba), onde iniciou sua militância no movimento negro, lutando contra o racismo e o machismo. Após se formar, trabalhou por quase 30 anos como professora da rede municipal e também na Biblioteca da Igreja da Glória, incentivando o acesso à leitura e aos direitos sociais.
Nos anos 1990 e 2000, foi uma das vozes da Rádio Comunitária Mega, no bairro Santa Cândida, onde liderava programas voltados à conscientização popular. “A rádio era uma forma de dar voz à comunidade, mostrar o que pensávamos e reivindicar nossos direitos”, relatou em entrevista. Quando a emissora foi fechada, criou o Coletivo Vozes da Rua, voltado à valorização da cultura negra e da juventude periférica.

Legado e reconhecimento
Adenilde sempre foi lembrada por sua firmeza e sensibilidade. Militante, professora e intelectual, ela transformou o cotidiano da Zona Leste com sua presença ativa nas escolas, nos movimentos e nas ruas. A UFJF chegou a homenageá-la como exemplo de mulher empoderada e emancipada, ressaltando sua trajetória como símbolo de resistência e transformação social.
“Minha família descende de pessoas escravizadas. Meus pais achavam que a vida era daquele jeito, sem direitos. Eu aprendi que a gente pode mudar essa história”, disse certa vez, em uma de suas falas mais lembradas.
Com a morte de Adenilde Petrina, Juiz de Fora perde não apenas uma educadora, mas uma voz que ensinou gerações a lutar, questionar e acreditar no poder da coletividade.