A memória e a luta pela democracia ganharam um novo símbolo em Juiz de Fora. Nesta quarta-feira, 9 de abril, foi instalado na Câmara Municipal o quarto painel do projeto Trilhas da Liberdade, com a obra “Liberdade ainda que tardia”, da artista Vitória Bicalho. A ação marca os 172 anos da Casa Legislativa e integra as atividades que relembram os 61 anos do golpe militar no Brasil.
A iniciativa é uma parceria entre a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), por meio da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Fundação Fadepe. O projeto também conta com apoio da vereadora Laiz Perrut, autora da emenda parlamentar que viabilizou a ação, e do Grupo de Trabalho “61 Anos do Golpe”, que reúne representantes da OAB/JF, da Comissão Municipal da Verdade, da Família Riani e da própria PJF.

Arte como memória e resistência
Instalado no saguão do Palácio Barbosa Lima, sede da Câmara Municipal, o painel do Trilhas da Liberdade é mais do que uma obra artística — é um marco de memória coletiva e reparação histórica. A prefeita Margarida Salomão destacou, durante a cerimônia, que a democracia é um bem essencial, e que o Parlamento precisa ser um espaço sagrado de liberdade. “A democracia, quando nos falta, é como se o ar também nos faltasse. Todos os avanços sociais dependem dela”, afirmou.
Já o secretário de Direitos Humanos, Biel Rocha, lembrou que o projeto é um ato de resistência e um alerta para o futuro. “É uma reparação em forma de arte. Com esta obra, sussurramos ao futuro que nenhum golpe apaga o povo e nenhum silêncio dura para sempre. Viva a democracia”, declarou.
A instalação também foi marcada por homenagens a ex-vereadores vítimas da repressão, como Peralva de Miranda Delgado, Nery de Mendonça, Francisco Afonso Pinheiro e Jair Reihn — todos eleitos democraticamente e cassados pela ditadura militar. Lindolfo Hill, que teve o mandato extinto durante o governo Dutra, também foi lembrado.
Preservação da história e valorização da cultura
O presidente da Câmara, vereador José Márcio-Garotinho, aproveitou o evento para anunciar a digitalização de mais de 21 mil páginas manuscritas das atas de reuniões ordinárias e extraordinárias da Câmara, abrangendo o período de 1950 a 2002. O objetivo é preservar e democratizar o acesso à memória institucional da cidade.
Além disso, o acervo de livros reeditados e digitalizados pela Câmara será ampliado com a inclusão de novos títulos relevantes para a história e a cultura local. Obras como Juiz de Fora Imperial, Arquitetura Eclética e Arquitetura Moderna e Art Déco, de Antônio Carlos Duarte, Ruas de Juiz de Fora (Funalfa), e Posturas da Câmara Municipal da Villa de Santo Antonio do Parahybuna, de 1853, serão disponibilizadas ao público, ao lado da atualizada História de Juiz de Fora, de Paulino Oliveira.
Um projeto em expansão
Além do novo painel instalado na Câmara, o projeto Trilhas da Liberdade já conta com outras três obras espalhadas pela cidade: na Praça Antônio Carlos (em frente à antiga auditoria militar), no Conservatório Estadual de Música Haideé França Americano, e no antigo prédio do Diretório Central dos Estudantes (DCE), na Avenida Getúlio Vargas.
Cada uma das obras do Trilhas da Liberdade carrega um pedaço da história local e nacional, resgatando nomes, rostos e lutas que marcaram a resistência democrática em Juiz de Fora e no Brasil. O projeto segue como um importante instrumento de educação, arte e cidadania — e reforça o compromisso da cidade com a memória e com o futuro.