Não é de hoje que Juiz de Fora carrega a fama de cidade boêmia. Basta dar uma volta à noite pelo centro ou por bairros como São Mateus, Alto dos Passos e Santa Helena para ver bares lotados, copos erguidos e uma trilha sonora que convida a ficar mais um pouco. Mas o que muita gente vê como parte da cultura local esconde um dado preocupante: o consumo de bebidas alcoólicas no Brasil bateu recorde — e Minas Gerais aparece entre os estados que mais gastam.
De acordo com o estudo IPC Maps 2024, as famílias brasileiras movimentaram R$ 36,3 bilhões com bebidas alcoólicas no último ano. É dinheiro que não acaba mais — e representa um salto de 8,7% em relação a 2023. Em Minas, os gastos chegaram a R$ 3,7 bilhões, ficando atrás apenas de São Paulo. E, mesmo sem um recorte exato da cidade, Juiz de Fora certamente contribui com uma boa fatia dessa conta.
É só pensar: são festas, aniversários, encontros com amigos e até happy hours que terminam só no dia seguinte. A bebida está presente — e, muitas vezes, naturalizada.
Só que, por trás desse consumo todo, existe um alerta que não pode ser ignorado. O alcoolismo é uma doença crônica e atinge cerca de 10% da população adulta brasileira, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde. Não se trata de moralismo, mas de saúde pública.
Consumo de bebidas alcoólicas em Juiz de Fora.
O levantamento do IPC Maps indicou que Juiz de Fora é a quarta cidade de Minas que mais consome bebidas alcoólicas. O estudo mostrou que em 2024, foram consumidos o equivalente a R$ 134 milhões em bebidas alcoólicas na cidade. Um crescimento de 3,57% em relação a 2023, quando foi registrado consumo na ordem de R$ 130 milhões.
Em Juiz de Fora, os reflexos aparecem de forma direta: desde internações em hospitais por problemas relacionados ao álcool até casos de violência doméstica e acidentes de trânsito. Quem trabalha em UBSs ou em serviços de acolhimento social conhece bem essa realidade, que muitas vezes começa com “só uma cervejinha”.
Ainda segundo o levantamento, o Distrito Federal foi o local onde o consumo mais cresceu, com aumento de 27%. Já o IPC Maps, responsável pelo estudo, é conhecido por medir o potencial de consumo das cidades com base em dados oficiais, e divide essas informações por classe social, setor da economia e até hábitos regionais.
Na prática, o que isso tudo mostra é que o Brasil — e Juiz de Fora junto — continua enchendo o copo. E se por um lado a bebida movimenta a economia, do outro impõe um desafio urgente: falar sobre seus excessos com mais seriedade e menos tabu.
Afinal, como já dizia aquele velho ditado mineiro: “tudo demais, até amor e pinga, faz mal”.